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No ano de 1906, o matemático Sir Francis Galton, da época vitoriana, participou de uma feira local na região oeste da Inglaterra. Nessa feira, como era costume naquela época, foi realizada uma competição para adivinhar o peso de um boi, na qual 800 aldeões apresentaram suas estimativas. Galton, sendo um estatístico curioso, decidiu verificar o desempenho coletivo do grupo e calculou a média das submissões, que resultou em 1.207 libras, apenas nove libras a mais do que o peso real do boi.

Em resumo, o grupo apresentou uma previsão surpreendente, com uma precisão de 99%. As descobertas de Galton foram divulgadas e, assim, surgiu o conceito conhecido como “a sabedoria das multidões”. De acordo com a pesquisa de Galton, uma multidão é um indicador mais preciso do que um pequeno grupo de especialistas e pode resolver problemas de maneira mais eficiente do que um único indivíduo.

Daqui a cem anos, as marcas adotaram a ideia de inteligência coletiva para alcançar diversos objetivos, como prever o clima com maior precisão, simplificar o governo e aprimorar a forma como navegamos em nossas viagens.

Desde então, as empresas descobriram como aproveitar a sabedoria coletiva para melhorar a inovação de novos produtos e envolver-se de forma mais efetiva com seu público-alvo. Por exemplo, a Starbucks adotou essa abordagem para aprimorar sua experiência nas lojas e até mesmo criar novos sabores, como o café com sabor de abóbora e as bebidas “skinny”. A LEGO também encoraja seu público a compartilhar ideias de novos produtos, com alguns projetos selecionados se tornando produtos reais da LEGO disponíveis para venda. Dado o êxito dessas marcas ao utilizar a colaboração do público, não é surpreendente que outras organizações estejam buscando suas próprias comunidades para se beneficiarem de sua sabedoria.

Devido às redes sociais, as marcas têm uma maneira mais fácil de alcançar grandes grupos de pessoas. Não é mais necessário gastar tempo pesquisando ou pedindo opiniões de muitos consumidores. No entanto, antes de usar as informações da multidão social, as marcas precisam garantir que essa multidão seja realmente inteligente.

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As marcas devem ampliar seus horizontes para conceitos inovadores de colaboração em massa.

Qual é o elemento que faz com que uma multidão seja mais inteligente do que outra? Ao decidir de qual multidão extrair ideias, os profissionais de marketing devem levar em consideração as quatro características principais que o autor e jornalista James Surowiecki lista como essenciais para a inteligência coletiva: variedade, distribuição, autonomia e agregação.

Primeiro, é importante garantir que uma multidão sábia seja composta por diversas perspectivas, experiências e especializações diferentes. O uso generalizado das mídias sociais em diferentes grupos demográficos permite que as marcas tenham acesso a uma variedade de dados. Com a disponibilidade de insights provenientes das multidões sociais, as marcas estão mais bem preparadas para criar produtos e serviços que atraiam um público mais amplo. Além de atender a diversos consumidores, os profissionais de marketing podem evitar criar campanhas ou produtos que possam potencialmente ofender partes do seu público-alvo.

Em seguida, é importante descentralizar uma multidão sábia. Isso implica que os profissionais de marketing devem utilizar insights e opiniões provenientes de várias fontes – e as redes sociais proporcionam às marcas a oportunidade de obter informações dos consumidores de todo o mundo. Ao lançar sua campanha “Do the World a Flavor”, a Ben & Jerry aproveitou as redes sociais para receber 100.000 novas sugestões de sabores e até mesmo identificar sabores locais específicos para diferentes cidades.

Uma audiência parcial pode causar mais prejuízo do que benefício.

A diversidade e a descentralização são apenas uma parte do que é necessário para criar uma multidão inteligente. Além de alcançar um público diversificado e global, as marcas também devem garantir que suas multidões sejam imparciais e que os profissionais de marketing possuam as ferramentas necessárias para analisar informações sociais.

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A sabedoria coletiva depende em grande parte da independência, ou seja, de ideias e opiniões livres de influências externas. Isso pode ser especialmente desafiador nas mídias sociais, onde os usuários podem ser influenciados pelo “pensamento de grupo” e por mensagens automatizadas. No entanto, as mídias sociais também encorajam as pessoas a compartilharem suas opiniões imparciais; basta passar alguns minutos nelas para ver os consumidores expressando livremente o que pensam.

A fim de obter sabedoria, é importante encontrar fontes de dados autênticas e independentes e decidir quais fatores externos ou influenciadores devem ser considerados ou excluídos dos conjuntos de dados. Ao aplicar esses filtros antes da análise de dados, é possível evitar preconceitos indesejados e assegurar que as conclusões sobre os clientes sejam baseadas em pensamento independente.

Em suma, os profissionais de marketing estão buscando um método eficiente para incorporar as percepções dos consumidores à medida que as marcas lidam com conjuntos de dados sociais cada vez maiores e as necessidades da organização evoluem. Enquanto Galton utilizava um cálculo simples para agregar percepções dos aldeões, essa abordagem não é tão eficaz ao lidar com dados quantitativos e qualitativos nas mídias sociais. Por isso, os profissionais de marketing estão recorrendo cada vez mais a ferramentas como a escuta social, que possibilitam aproveitar o poder coletivo e preditivo da multidão.

A escuta social é uma ferramenta útil para as marcas, pois permite que elas capturem de forma rápida os diferentes pensamentos e sentimentos que surgem nas mídias sociais. Com essa escuta, as marcas podem transformar milhares de dados em insights acionáveis, aproveitando a inteligência coletiva de maneiras interessantes.

Do planejamento à reação às situações de crise: como as empresas estão utilizando o conhecimento coletivo para agir.

Um estudo fascinante realizado pela Georgetown revela como as redes sociais podem ser usadas para atingir um dos principais objetivos do negócio: prever com precisão as vendas. Neste estudo de caso, os pesquisadores monitoraram o Twitter em busca de intenção de compra e combinaram esses dados com indicadores de sentimento positivo para marcas populares. Ao analisar os dados coletados da comunidade do Twitter, foi possível estabelecer correlações que indicavam que essa comunidade era capaz de prever vendas futuras.

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A empresa James Hardie, fabricante de materiais de construção, utiliza a sabedoria coletiva da multidão para realizar análises de tendências e pesquisas de produtos. A equipe da empresa aproveita a presença abrangente das redes sociais para obter insights de negócios. Através da escuta social, eles interagem com o público e analisam os temas comuns nas conversas dos clientes, permitindo que prevejam o que está por vir na indústria. Além disso, a empresa pode usar as informações obtidas para aprimorar suas operações comerciais.

Além disso, a sabedoria coletiva pode trazer benefícios adicionais para uma organização. Os Correios dos Estados Unidos utilizam a análise de redes sociais para identificar questões superficiais e reconhecer tendências em conversas sociais durante situações de desastres naturais. Com base nisso, a equipe de mídia social pode criar conteúdo editorial personalizado de forma previsível, atendendo às necessidades das pessoas afetadas e melhorando as operações.

No final das contas, esses exemplos de uso demonstram formas proativas que as empresas podem se beneficiar ao ouvir a opinião pública. Agora que existem ferramentas disponíveis para coletar e analisar esses dados de maneira eficiente e em grande escala, os profissionais de marketing que têm uma visão futurista seriam inteligentes ao agir.